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domingo, 29 de março de 2009

Tumulo D. Pedro I

Túmulo de D. Pedro I - Roda da Vida e Roda da Fortuna (Mosteiro de Alcobaça)

Túmulo de D. Pedro I

D. Pedro I está representado também com a expressão tranquila, coroado e rodeado por anjos. Segura o punho da espada na mão direita, enquanto com a esquerda agarra a bainha. Nas faces do túmulos estão representadas: nos frontais, a Infância de S. Bartolomeu e o Martírio de S. Bartolomeu e, nos faciais, a Roda da Vida e a Roda da Fortuna e ainda a Boa Morte de D. Pedro.

Neste túmulo destaca-se o facial da cabeceira onde está representada a Roda da Vida e a Roda da Fortuna.

A Roda da Vida possui 12 edículas com os momentos da vida amorosa e trágica de D. Pedro e de D. Inês. Na leitura das edículas (feita no sentido ascendente e da esquerda para a direita), podemos observar: D. Inês acaricia um dos filhos; o casal convive com os três filhos; D. Inês e D. Pedro jogam xadrez; os dois amantes mostram-se em terno convívio; D. Inês subjuga uma figura prostrada no chão; D. Pedro sentado num grandioso trono; D. Inês apanhada de surpresa pelos assassinos enviados pelo rei D. Afonso IV; D. Inês desmascarando um dos seus assassinos; degolação de D. Inês; D. Inês já morta; castigo dos assassinos de Inês; D. Pedro I envolto numa mortalha.

Nas edículas interiores – Roda da Fortuna – podemos observar (no mesmo sentido da Roda da Vida): D. Inês sentada à esquerda de D. Pedro (por ainda não estarem casados); o casal troca de posição (D. Inês sentada à direita de D. Pedro, o que indica que já estão casados); D. Pedro e D. Inês sentados lado a lado parecendo um retrato oficial; D. Afonso IV a expulsar (pelo apontar do dedo) Inês do reino; D. Inês repele um homem que parece ser de novo D. Afonso IV; D. Pedro e D. Inês prostrados no chão subjugados pela figura híbrida da Fortuna que segura com as mãos a roda.

(Fonte: pt.wikipedia)

sábado, 28 de março de 2009

Tumulo de Inês de Castro

Túmulo de D. Inês de Castro - Juízo Final - Mosteiro de Alcobaça

Túmulo de D. Inês de Castro

Inês de Castro está representada com a expressão tranquila, rodeada por anjos e coroada de rainha. A mão direita toca na ponta do colar que lhe cai do peito e a mão esquerda, enluvada, segura a outra luva.

Os temas representados no túmulo são: nos frontais, a Infância de Cristo e a Paixão de Cristo e, nos faciais, o Calvário e o Juízo Final.

Neste túmulo salienta-se um dos faciais, que representa o Juízo Final. Pensa-se que D. Pedro, com a representação desta cena dramática da religião cristã, quis mostrar a todos (inclusive a seu pai e aos assassinos) que ele e Inês tinham um lugar no Paraíso e que quem os fizera sofrer tanto podia ter a certeza que iria entrar pela bocarra de Levitão representada no canto inferior direito do facial. Podemos observar também a figura de Cristo entronizado, e a Virgem e os Apóstolos que à sua direita rezam. Em baixo estão representados os mortos que se levantam das suas sepulturas para serem julgados.

(Fonte: pt.wikipedia)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Inês de Castro – Criada Rainha

inesdecastro 

Séculos atrás, a sete de Janeiro de 1325 nasceu Inês

Não era de sangue Real, filha de homem sério e mais linda

Companhia da esposa destinada ao príncipe Português

O amor nasceu do destino 1340 Inês muito jovem ainda

D. Pedro IV não amava a esposa Constância a ele destinada

Não tinha beleza e de saúde fraca, arruinada

Passava dias a cortejar a Inês, seu amor e sua criada

Um dia no rio Mondego de barco com a Inês o passear

Ouviram as lavadeiras falando deles com língua destravada

D. Pedro via em Inês seu grande amor, seu altar

Ordenou que as lavadeira lhe fosse a língua cortada

1349 a esposa Constância morreu

Deixando D. Fernando como herdeiro

Mas o amor entre D. Pedro e Inês floresceu

Então o rei mandou assassinar Inês no Mosteiro

D. Pedro ao saber da morte da amada ficou desvairado

Procurou saber quem foram os de tanta malvadez

Quem tinha sua amada apunhalado

D. Pedro lhe arrancou o coração com as mãos

E jurou de muito mais Inês ser vingada

Seu pai morreu, D. Pedro senhor do trono de Portugal

Mandou Que Inês fosse desenterrada

Coroa Rainha num gesto de amor sem igual

Mandou que os nobres jurassem vassalagem

Secretamente tinha casado, Inês era a rainha de Portugal

Mandou ser sepultado lado a lado com a mulher que amou

Esta história de amor por todo o mundo é contada

Um rei que amou a criada como o mel

E ficou para sempre o nome de D. Pedro o Cruel

Citação: Armando Sousa - Retirado da História

sábado, 21 de março de 2009

Quadro "Súplica de D. Inês de Castro"

Quadro da Suplica de Inês de Castro

O quadro "Súplica de D. Inês de Castro", do pintor Vieira Portuense, adquirido em 2008 num leilão, em Paris, por um empresário português em parceria com o Estado, foi  apresentado no dia 26 de Fevereiro, no Museu Nacional de Arte Antiga.

BIOGRAFIA DO PINTOR

Francisco Vieira, o Portuense
(1765-1805)

     Nascido na cidade do Porto em 1765, Francisco Vieira ficou conhecido com o cognome de «Vieira Portuense», para distingui-lo de Francisco Vieira de Matos (1699-1783), o «Vieira Lusitano».

     Filho do notável pintor Domingos Francisco Vieira ( ? – 1804), aprendeu com o pai os primeiros rudimentos de desenho e pintura, tendo, aos 17 anos, recebido também aulas do francês Jean Pillement, então residindo em Portugal.

     Transferindo-se para Lisboa, frequentou a aula régia de desenho e figura (1787 a 1789), viajando depois para a Itália, com o pensionado da Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro, mais a protecção do Bispo de Macau e da embaixada de seu país junto à Santa Sé.

     Sua permanência na terra das artes foi bem destacada e, em 1790, ganhou o primeiro prémio num concurso académico dirigido pelo escultor Pacelli, o que, por consequência, lhe valeu uma pensão mensal do governo português para prosseguir os estudos.

     De Roma, Vieira passou a Veneza e, depois, a Parma, tomando contacto com o património artístico acumulado em séculos na Itália. Em Parma, foi nomeado professor da Real Academia e copiou as mais conhecidas obras de Corregio, reunidas para a publicação de um livro sobre o pintor.

     Voltando a Portugal em 1801, foi nomeado professor de desenho e figura na Academia Real de Marinha e Comércio do Porto, onde poderia terminar sua carreira em glória.

     Entretanto, quis o destino que ele fosse nomeado, também, pintor da corte, juntamente com Domingos de Sequeira e essa foi a fonte de todos os seus dissabores e do agravamento de uma tuberculose que há algum tempo o perseguia. O relacionamento entre Vieira e Sequeira não foi pacífico, cada um procurando um protector para defender-se e, por fim, Sequeira levou a melhor, subordinando Vieira ao seu comando, num ambiente de clara humilhação.

     Com a saúde abalada, o pintor muda-se para a ilha da Madeira, onde, com clima propício para o tratamento da doença, esperava recobrar a saúde. Foi lá que morreu, no ano de 1805.

(fonte: pitoresco.com)

quarta-feira, 18 de março de 2009

Inês de Castro - 650 anos após a sua morte

2 

O amor imortaliza quem amou e não devia. Os perigos a que estava sujeito impediam que se manifestasse a ânsia incontida de tudo sacrificar na pedra da sua deusa protectora.

Há inúmeras histórias de amor que sobreviveram ao rotineiro rolar dos séculos, alimentadas por ondas irrequietas da imaginação que se vai desenvolvendo caprichosamente.

A nossa História não foge à de outros países onde episódios romanescos de reis, clérigos, fidalgos e freiras exaltaram as suas vidas, amando até ao total esquecimento de juramentos feitos em nome do respeito devido ao próximo ou a Deus.

Cada episódio daria lugar a considerações de vária ordem.

Mas, perguntamo-nos: até onde valeria a pena debruçarmo-nos sobre a trama entretecida de juras de amor, de promessas de lealdade e de eterna devoção?

Suplica Inês de Castro

Na roda-viva da vida são pedaços de uma realidade inextinguível, são emergentes da condição de existir.

Todavia, há alguns dramas de amor a que a voz do povo, a literatura e a arte deram a perenidade.

Ficam vinculados à amálgama social que, ora se fortalece em ciclos propícios, ora se definha em ciclos redutores. Não se podem expurgar e, a propósito de uma efeméride, ou a propósito de revivalismos estéticos emergem da superfície das águas tranquilas, onde pareciam adormecidos.

Dramas de amor sempre houve - tantos ficaram apenas na intimidade de um círculo restrito dos intervenientes. Foram, por assim dizer, um acontecimento de intimidade, não foram envolvidos pela tradição.

Portugal conta no seu historial amoroso com um drama cujo desfecho violento, tingido de sangue, continua a estar imbuído de alguma indefinição. Este mistério tem adensado a sua sobrevivência, como acontece, aliás, com fenómenos de consciência colectiva que se alimentam de interrogações sem respostas clarividentes.

O amor de Pedro e Inês conta-se entre os que alimentam a piedade do povo e deram origem a inspirados e belos trechos repassados de um lirismo comovente.

Todos os portugueses medianamente cultos conhecem a trágica convivência entre o nosso rei D. Pedro I e Inês de Castro, senhora natural da Galiza - região de paisagem doce, envolvida pela suavidade de um verde tenro e o azul celeste retemperador. Cedo foi levada para Castela, para junto de sua prima D. Constança Manuel - senhora de ascendência real e que veio a casar-se com o nosso então príncipe D. Pedro.

No seu séquito, D. Constança trouxe várias damas e, entre elas, a sua prima e muito dedicada Inês de Castro.

Chegada a Portugal sucedeu-se o cerimonial próprio de um acontecimento marcante na vida de um príncipe herdeiro. Houve apresentações das personagens mais proximamente envolvidas e, diz a tradição, que a troca de olhares entre Pedro e Inês foi fulminante; que o noivo de Constança não mais deixou de pensar na formosa dama castelhana, de cabelos louros como o trigo e colo de alabastro, símbolo de beleza e postura fidalga.

Diz o cronista que D. Pedro foi um marido dedicado, o que não obstava à grande mágoa de D. Constança que cedo se apercebeu da paixão dominante de seu marido pela quase irmã que trouxera consigo.

Procurou evitar o enraizamento deste amor, convidando D. Inês para madrinha do infante D. Luís, o que os vinculava ao respeito pelo Direito Canónico, uma vez que o compadrio era um impeditivo de relações adúlteras. Mas, o Infante morreu cedo, pelo que ficou sem efeito a medida tomada por D. Constança.

E a paixão manteve-se - platónica ou não - até que a morte de Constança pôs fim a qualquer pudor de consciência que houvesse da parte dos dois enamorados.

D. Afonso IV ordenou que D. Inês fosse desterrada na esperança de que o seu afastamento fizesse reflectir D. Pedro que continuava avesso a cumprir a vontade do pai, casando-se, novamente, fosse com que princesa fosse.

Entretanto nasceram três infantes - D. João, D. Dinis e D. Beatriz - testemunhas de um amor profundo que o tempo tornara mais cúmplice.

À volta desta ligação foi-se adensando um crescente mal-estar, não só pela firme resolução de o príncipe não conservar a memória de um adultério cometido, que fez sofrer a corte, como pela desconfiança que alguns nobres próximos de D. Afonso IV nutriam pelos irmãos de Inês de Castro, nobres e aguerridos cavaleiros que, segundo aqueles, podiam pôr em perigo a independência de Portugal.

Segundo os acontecimentos analisados à luz de investigadores mais recentes, esta tese começa a não constituir o ponto fulcral da sentença de morte proferida pelo Rei, contra Inês de Castro. Tudo não teria passado de intrigas da corte.

Em data indeterminada, D. Pedro decidiu trazer Inês para Coimbra, refúgio bucólico de amantes que sentem reforçado o seu amor, pela paisagem idílica que se estende a seus pés, e onde os aromas de uma natureza pujante e generosa mais terão envolvido os sentidos sedentos de ternura e afecto.

Esta felicidade é cortada, abruptamente, pela decisão irrevogável de Afonso IV. Os seus conselheiros foram mais fortes do que a sua complacência e, influenciado pelas suas intrigas, decreta a execução de D. Inês.

Camões em "Os Lusíadas" diz "… arrancam de espadas de aço fino… no colo de alabastro …as espadas banhando …" forma de dizer que, não podendo ser considerado um facto histórico incontestável, demonstra que, sendo Inês de Castro uma senhora de alta estirpe, não podia ser executada senão pela degolação. O mesmo se pode concluir de uma gravura de um códice de Lorvão, da época medieval.

D. Inês de Castro foi executada no dia 7 de Janeiro de 1355. Decorreram 650 anos sobre esse dia funesto em que a morte se sobrepôs ao anseio de uma vida dedicada ao amor pelo seu amado e pelos seus filhos.

A lenda apoderou-se de todo este trágico destino. O povo chorou a mãe que deixou três crianças órfãs e o mesmo povo as amou, no decorrer dos anos.

D. Inês de Castro foi celebrada, séculos mais tarde, por Camões que no seu poema épico a cantou em versos do mais puro e belo lirismo.

Coimbra ficou para sempre ligada ao drama aqui desenrolado.

"As filhas do Mondego, a morte escura

Longo tempo chorando, memoraram

………………………………………….

O nome puseram que inda dura

Dos amores de Inês que ali passaram

Vede que fresca fonte rega as flores

Que lágrimas são água, e o nome amores."

A Quinta das Lágrimas é o espaço verdejante e calmo que tem visto brotar as lágrimas sentidas de Inês, ora com saudades do amado ausente em montarias, ora à beira da morte, em trágica súplica a D. Afonso IV para que a poupasse à ira dos seus algozes.

Também, ainda no século XVI, António Ferreira escreveu a "Castro" - "tragédia mui sentida e elegante" - em que o autor quer redimir a figura de Inês, mulher que fez do amor a sua vida e, vítima inocente, é imolada a esse mesmo amor.

O lirismo de Camões e o de António Ferreira, que cantou Inês muitos anos após a emoção vivida mesmo em cima dos acontecimentos, mostra que o drama desenrolado no "saudoso campo do Mondego" foi ecoando pelas quebradas do tempo.

A fala do povo não se calou e a tragédia foi sendo conhecida de geração em geração.

Quem vai ao Mosteiro de Alcobaça e vibra com o silêncio da austeridade das suas naves, não deixa de se extasiar, perante a magnificência dos dois túmulos onde repousam os corpos dos dois amantes.

Eles são, no seu simbolismo, o nosso Taj Mahal.

D. Pedro quis, séculos antes, perpetuar, na pedra lavrada o seu amor por Inês e tudo lhe terá parecido medíocre perante o muito que quis dar-lhe, em vida, e não conseguiu.

As mãos e a sensibilidade dos artífices fizeram da desditosa Inês de Castro a rainha que só o foi na intenção e no desejo do Rei desesperado.

Foi assim que, recorrendo à perenidade da arte, D. Pedro satisfez o seu anseio de elevar a mulher amada ao cume da realeza.

Na placidez da expressão da sua face, a cabeça coroada e protegida pelo baldaquino - tal como a do monarca - Inês ali repousa, símbolo do amor elevado ao mais alto expoente, o amor que fica "Até ao fim do Mundo".

Citação: Maria Noémia de Melo Leitão

domingo, 15 de março de 2009

Inês de Castro

 Inês de Castro

Inês de Castro

(Dama da corte portuguesa )

1323 - 1355

Dama da corte portuguesa nascida em Castela, cujo drama que a levou à morte, assassinada por motivos políticos, foi imortalizado por Camões em Os lusíadas. Filha ilegítima de um nobre da Galícia, foi para Portugal (1340) como dama de honra de D. Constança, filha do infante espanhol D. Juan Manuel, quando esta se casou com o príncipe herdeiro D. Pedro, filho do rei de Portugal, D. Afonso IV. Na corte tornou-se amante do príncipe herdeiro, que após a morte de Constança (1345), apesar da oposição do rei, casaram-se secretamente. O casal teve quatro filhos e essas crianças e mais a presença em Portugal de seus irmãos Afonso e Fernando, provocaram intrigas na corte e alimentaram a suspeição do rei D. Afonso, que temia pelos direitos sucessórios de seu neto Fernando, filho de Constança. Numa das ausências de Pedro, conspiradores prenderam-na em Coimbra e o rei ordenou a execução, morte lamentada por Camões e que demonstrou sua indignação em versos imortais. Quando Pedro subiu ao trono (1357) desencadeou sua vingança e mandou executar todos os matadores de sua amada, além de ordenar que os restos mortais dela fossem transportados do mosteiro de Santa Clara para Alcobaça, com pompas reais. O seu drama tornou-se tema de inúmeras peças de teatro, e de outras artes, como a pintura, imortalizando-a como personagem de uma história real de amor.

Fonte: Biografia de Inês de Castro

sexta-feira, 13 de março de 2009

Os Lusíadas - Episódio de Inês de Castro

 

O episódio de Inês de Castro encontra-se no canto III d' Os Lusíadas , desenrola-se entre as estrofes 118 e 135 e pertence ao Plano Narrativo da História de Portugal.

É Vasco da Gama (narrador) quem conta ao rei de Melinde (narratário) este trágico episódio que começa com o regresso vitorioso de D. Afonso IV. o Bravo, da Batalha do Salado. Antes ainda de se centrar em Inês, o narrador começa por chamar a nossa atenção, na estrofe 119, para o cruel amor, que considera como principal culpado da morte de Inês. O amor é descrito como feroz e tirano, desejoso de sangue humano.

Na estrofe 120, o narrador centra a sua atenção em Inês, que descreve como uma jovem linda e alegre que passeava despreocupadamente pelos campos do Mondego (Coimbra) onde costumava encontrar-se com o príncipe D. Pedro. A Natureza surge como amiga e confidente de Inês, testemunha do amor entre os dois.

Alertado pelo murmurar do povo que não via com bons olhos a recusa de D. Pedro em casar-se, o rei, D. Afonso IV, acaba por, contra a sua vontade, ordenar a morte de Inês. O rei é claramente desculpabilizado por Camões que atribui culpas ora ao amor, ora ao destino, ora ao povo.

Na estrofe 124, os carrasco levam Inês perante o rei, que, apesar de comovido, é, mais uma vez, convencido pela vontade do povo.

Entre as estrofes 126 e 129, Inês desenvolve o seu discurso, suplicando ao rei para que lhe poupe a vida e argumenta relembrando-o de que até os animais mais ferozes têm sentimentos e de que ela, como inocente (pois o seu único crime foi o amor), merece pelo menos a oportunidade de criar os seus filhos, ainda que fosse condenada a um desterro em terras longínquas apenas habitadas por animais selvagens. Chama ainda a atenção do rei para os seus filhos, que, afinal, são netos dele.

O rei comove-se com as palavras de Inês, mas o seu destino estava traçado e o rei acaba por seguir a vontade cruel do povo.

Na estrofe 132, assistimos à morte de Inês levada a cabo pelos carrasco que a matam sem piedade com as suas espadas.  A Natureza, outrora amiga e confidente de Inês, chora a sua morte. As lágrimas das ninfas do Mondego transformam-se na bela fonte que ainda hoje podemos visitar na Quinta das Lágrimas em Coimbra - a fonte dos amores.

Fonte: Os Lusíadas - Episódio de Inês de Castro

quinta-feira, 12 de março de 2009

Inês de Castro - Criada Rainha

 

Séculos atrás, a sete de Janeiro de 1325 nasceu Inês
Não era de sangue Real, filha de homem sério, ela a mais linda
Companhia da esposa destinada ao príncipe Português
O amor nasceu do destino 1340 Inês muito jovem ainda
D. Pedro IV não amava a esposa Constância a eles destinada
Não tinha beleza e de saúde fraca, arruinada
Passava dias a cortejar a Inês, seu amor e sua criada
Um dia no rio Mondego de barco com a Inês o passear
Ouviram as lavadeiras falando deles com língua destravada
D. Pedro via em Inês seu grande amor, seu altar
Ordenou que as lavadeiras, lhe fosse a língua cortada
1349 a esposa Constância morreu
Deixando D. Fernando como herdeiro
Mas o amor entre D. Pedro e Inês floresceu
Então o rei mandou assassinar Inês no Mosteiro
D. Pedro ao saber da morte da amada ficou desvairado
Procurou saber quem foram os de tanta malvadez
Quem tinha sua amada apunhalado
D. Pedro lhe arrancou o coração com as mãos
E jurou de muito mais Inês ser vingada
Seu pai morreu, D. Pedro senhor do trono de Portugal
Mandou Que Inês fosse desenterrada
Coroa Rainha num gesto de amor sem igual
Mandou que os nobres jurassem vassalagem
Secretamente tinha casado, Inês era a rainha de Portugal
Mandou ser sepultado lado a lado com a mulher que amou
Esta historia de amor por tudo o mundo e contada
Um rei que amou a criada como o mel
E ficou para sempre o nome de D. Pedro o Cruel

Por: Armando C. Sousa

quarta-feira, 11 de março de 2009

As filhas do Mondego a morte escura…

 

As filhas do Mondego a morte escura

Longo tempo chorando memoraram,

E, por memória eterna, em fonte pura

As lágrimas choradas transformaram.

O nome lhe puseram, que inda dura,

Dos amores de Inês, que ali passaram.

Vede que fresca fonte rega as flores,

Que lágrimas são a água e o nome Amores.

terça-feira, 10 de março de 2009

Assi como a bonina…

Assi como a bonina, que cortada

Antes do tempo foi, cândida e bela,

Sendo das mãos lascivas maltratada

Da minina que a trouxe na capela,

O cheiro traz perdido e a cor murchada:

Tal está, morta, a pálida donzela,

Secas do rosto as rosas e perdida

A branca e viva cor, co a doce vida.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Bem puderas, ó Sol, da vista destes,…

Bem puderas, ó Sol, da vista destes,

Teus raios apartar aquele dia,

Como da seva mesa de Tiestes,

Quando os filhos por mão de Atreu comia!

Vós, ó côncavos vales, que pudestes

A voz extrema ouvir da boca fria,

O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,

Por muito grande espaço repetistes.

domingo, 8 de março de 2009

Qual contra a linda moça Policena,…

Qual contra a linda moça Policena,

Consolação extrema da mãe velha,

Porque a sombra de Aquiles a condena,

C’o ferro o duro Pirro se aparelha;

Mas ela, os olhos, com que o ar serena

(Bem como paciente e mansa ovelha),

Na mísera mãe postos, que endoudece,

Ao duro sacrifício se oferece:

sábado, 7 de março de 2009

Queria perdoar-lhe o Rei benino…

Queria perdoar-lhe o Rei benino,

Movido das palavras que o magoam;

Mas o pertinaz povo e seu destino

(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.

Arrancam das espadas de aço fino

Os que por bom tal feito ali apregoam.

Contra hûa dama, ó peitos carniceiros,

Feros vos amostrais e cavaleiros?

sexta-feira, 6 de março de 2009

Põe-me onde se use toda a …

Põe-me onde se use toda a feridade,

Entre leões e tigres, e verei

Se neles achar posso a piedade

Que entre peitos humanos não achei.

Ali, c’o amor intrínseco e vontade

Naquele por quem mouro, criarei

Estas relíquias suas que aqui viste,

Que refrigério sejam da mãe triste.)

quinta-feira, 5 de março de 2009

E se, vencendo…

 

    E se, vencendo a Maura resistência,

    A morte sabes dar com fogo e ferro,

    Sabe também dar vida, com clemência,

    A quem peja perdê-la não fez erro.

    Mas, se to assi merece esta inocência,

    Põe-me em perpétuo e mísero desterro,

    Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente,

    Onde em lágrimas viva eternamente.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Episódio de Inês de Castro de Os Lusíadas

 

Ines de Castro

Episódio de Inês de Castro


(Lusíadas - Luís de Camões)

 

Índice

Introdução

O amor-paixão e o inevitável fim trágico

O “eu” versus a sociedade/o “outro”

Lirismo e simbolismos presentes no episódio de Inês de Castro de Luís de Camões

Conclusão

Bibliografia

Introdução

A história e o mito que envolvem os amores de D. Inês de Castro e D. Pedro têm servido como tema para várias obras literárias. Desde autores nacionais a estrangeiros; autores de séculos distantes a autores nossos contemporâneos, a verdade é que a morte de Inês de Castro tem servido de inspiração literária e, por tal, esta história de amor portuguesa superou a temporalidade.

É no século XVI que surgem as primeiras obras literárias, de que há registo, a fazer referência a este amor: Garcia de Resende em As Trovas à Morte de Inês de Castro, Luís de Camões no Canto III d’ Os Lusíadas e António Ferreira em A Castro (a primeira tragédia clássica portuguesa). Desde então, podemos constatar a presença desta temática em todos os séculos, tanto na literatura erudita, como na literatura popular.

Com este trabalho proponho tratar alguns dos temas responsáveis pela imortalização de Inês de Castro, tal como a repercussão do tema inesiano em Os Lusíadas, de Luís de Camões.

O amor-paixão e o inevitável fim trágico

Poderíamos tentar encontrar várias respostas para esta perenidade do tema inesiano, no entanto, acabaríamos por formar grupos de respostas subjectivas. São vários os sub-temas e mitos por detrás dos amores de Inês e Pedro, cada um deles tem dado lugar a inúmeras interpretações. Embora as interpretações sejam subjectivas e diferentes de si mesmas, a verdade é que todas elas têm algo em comum: o mito do amor-paixão, que desemboca irremediavelmente na morte. Este mito tem sido um dos preferidos ao longo dos tempos, é aquele que faz o Homem sonhar, é aquele que causa uma certa compaixão e comoção. Tristão e Isolda; Romeu e Julieta; Teresa e Simão; são todos casais que têm como destino um fim trágico. Esse destino surge a partir do momento que decidem tentar alcançar o impossível. Todos estes casos caminharam para o abismo, abismo esse que em Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, vem bem retratado numa carta que Simão escreve a Teresa: Lembra-te de mim. Vive, para explicares ao mundo, com a tua lealdade a uma sombra, a razão por que me atraíste a um abismo.[1] No caso específico de Inês de Castro, esta desafia o poder do Estado, isto é, desafia a vontade de Afonso IV, é esta a sua hybris. Por motivos de ordem política Afonso IV não aceita Inês de Castro como esposa legítima de D. Pedro e, por tal, ela terá de morrer, pois escolheu entregar-se a este amor. O abismo é, então, a partir dessa escolha, inevitável.

No entanto, é o fim trágico (catástrofe) desta história de amor que a torna transcendente. Não houvesse nenhum obstáculo e nenhum desafio, seria uma história de amor igual a tantas outras. O desespero e o sofrimento progressivo (pathos) de Inês de Castro são elementos que têm sido fortemente explorados por vários escritores. Luís de Camões dedica dezanove estâncias d’ Os Lusíadas ao episódio de Inês de Castro. Também aqui é explorado o carácter trágico do mito inesiano. O episódio foca o encontro de D. Inês com Afonso IV, os pedidos de clemência e a injustiça e ferocidade em redor da morte da amada de D. Pedro. O início da narração deixa antever o desfecho do mito, isto é, sabemos à partida que o desenlace é trágico, está indiciado:

O caso triste e digno de memória,

Que do sepulcro os homens desenterra,

Aconteceu da mísera e mesquinha

Que depois de morta foi rainha. [2]

 

Camões aprofunda a dialéctica amor-paixão/fim trágico na estância 119, onde invoca através duma apóstrofe o puro Amor, atribuindo-lhe características dum deus despótico. Este Amor que surge com letra maiúscula poderá referir-se ao próprio Cúpido (constituindo assim uma antonomásia), filho de Vénus, ou ao Amor puro, aquele amor-paixão que é avassalador (como já vimos). Analisemos a estância:

Tu, só tu puro Amor, com força crua,

Que os corações humanos tanto obriga

Deste causa à molesta morte sua,

Como se fora pérfida inimiga.

Se dizem, fero Amor, que a sede tua

Nem com lágrimas tristes se mitiga,

É porque queres, áspero e tirano

Tuas aras banhar em sangue humano.

Há uma clara culpabilização do amor, é-lhe atribuído características humanas (animismo), mas não dum ser humano qualquer, trata-se dum ser inexorável, áspero e tirano que exige sacrifícios, faz vítimas. Todos os adjectivos presentes nesta estância têm uma conotação negativa e as aliterações em “r”, “m” e “f” dão ênfase à ferocidade e barbaridade com que este Amor trata as suas vítimas. Estas vítimas surgem, ainda, como inimigas, como se duma batalha se se tratasse, esta batalha só acaba quando o Amor vê saciado o seu desejo: sangue humano, lágrimas não são o suficiente.

Bastaria olharmos para esta estância do Canto Terceiro d’ Os Lusíadas para compreendermos como o amor-paixão é algo tão intenso e arrebatadora que poderá ter um fim tão violento como ele próprio é.

O “eu” versus a sociedade/o “outro”

A dicotomia “eu”/sociedade é uma dicotomia inexaurível. É no século XIX, com o Romantismo, que atinge o seu esplendor, o Homem é visto como um Bom Selvagem (ROUSSEAU) que é corrompido pela sociedade ou que nunca é aceite por esta. Por tal, é natural que os intelectuais românticos tenham visto em Inês de Castro a protagonista perfeita. O amor trágico de Inês e Pedro teve lugar na época medieval (época favorita dos românticos) e viu como seu opositor a sociedade, corporizada no Estado e em Afonso IV.

No entanto, já no século XVI se registou um interesse por esta temática. Garcia de Resende escreveu as Trovas à Morte de Inês de Castro no Cancioneiro Geral de 1516; António Ferreira explorou esta temática em A Castro; e Luís de Camões concentrou o seu episódio lírico de Os Lusíadas nesta problemática.[3]

Inês de Castro constituía um obstáculo e um problema para Afonso IV, mais concretamente para os interesses do Estado. Havia o perigo de Inês vir a ser rainha e tal era considerado arriscado porque Inês era filha de galegos e, uma vez rainha, a independência de Portugal poderia estar ameaçada. Havia também receio que os filhos de Inês de Castro e Dom Pedro pudessem vir a lutar contra os filhos de Dona Constança e Dom Pedro pelo trono. Não nos podemos esquecer de que esta história se desenrola em pleno século XIV, uma época de diferenciação cultural e afirmação política das nacionalidades. Muitas batalhas haviam sido travadas para alcançar independência, o medo de perder tudo aquilo pelo qual se tinha lutado (e ainda se estava a lutar) era bem visível. Assim, torna-se claro como o casamento de Inês e de Pedro não era politicamente favorável aos interesses do Estado. Cabia a Dom  Afonso IV agir de acordo com os interesses nacionais, mesmo que isso significasse matar uma inocente e fazer sofrer o seu próprio filho.

Todo o episódio dedicado a Inês de Castro n’ Os Lusíadas foca este dilema. Afonso IV, juntamente com os seus conselheiros, vai ao encontro de Inês para a tirar ao mundo. No entanto, a dada altura Afonso IV fica comovido com os pedidos de clemência de Inês e, se não fosse a pressão do povo, teria voltado atrás na sua decisão. Vejamos em pormenor a estância 130:

Queria pedoar-lhe o Rei benigno,

Movido das palavras que o magoam;

Mas o pertinaz povo e seu destino

(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.

Arrancam das espadas de aço fino

Os que por bom tal feito ali apregoam.

Contra ua dama, ó peitos carniceiros,

Feros vos amostrais e cavaleiros?

Podemos constatar que a vontade do Rei nesta fase era a de poupar Inês, sendo, até, apelidado de Rei benigno. No entanto, a conjunção adversativa “mas” coloca o povo e o destino contra Inês e contra, inclusive, a vontade de Afonso IV. As razões do povo já conhecemos, dizem respeito ao interesse nacional. Afonso IV como representante do povo teria que responder aos seus pedidos, e caso voltasse atrás haveria também a hipótese de lhe ser posto em questão a sua bravura e absolutismo. Quanto ao destino como opositor, é um elemento que se encontra sempre presente nas tragédias, Camões dá assim ênfase a este elemento trágico.

É importante também salientar a interrogação retórica presente no final desta estância. Luís de Camões faz uma espécie de denúncia e deixa no ar a verdadeira natureza destes homens que mostram a sua valentia atacando uma dama indefesa.

Contudo, como já foi dito, caso não houvesse um interesse nacional em oposição aos amores de Pedro e Inês, esta tragédia nunca teria acontecido. Não é possível compreender inteiramente a situação e o destino de Inês sem que se considere a própria situação de Afonso IV (situação essa que analisámos nos parágrafos anteriores). Assim, Inês e Afonso IV são uma espécie de Antígona e Creonte. Ambos têm alguns traços em comum, são fiéis às suas posições e vontades e, por tal, sofrem as consequências. Tal como Antígona, a figura de Inês não teria força e expressão se não houvesse um rei a fazer-lhe oposição.

Lirismo e simbolismos presentes no episódio de Inês de Castro de Luís de Camões

É do conhecimento de todos que Os Lusíadas é uma obra de cariz épico onde o universo masculino é o predominante. Assim, todo o episódio de Inês de Castro entra em perfeito contraste com a restante obra. Neste episódio a personagem central é feminina e o lirismo presente nos sonetos camonianos é transposto para estas estâncias. Luís de Camões consegue estabelecer com o leitor um contacto inquestionavelmente emotivo. O leitor além de emocionar-se com os versos jamais conseguirá esquecê-los. O desespero que Camões coloca nas falas de Inês (inventadas por si) faz com que um universo de terror progrida e “arraste” consigo o próprio leitor. Existem momentos em que o leitor é levado a sentir compaixão e levado também a partilhar o sofrimento das personagens da tragédia, a piedade perante tal destino trágico instala-se dando assim origem à Catarse.

Os argumentos de Inês estão carregados de alusões à mitologia pagã (tipicamente Clássico), como são os casos das referências à deusa Natura, a Rómulo e a Remo. Estas referências são simbólicas pois colocam os animais ferozes e irracionais em contraste com Afonso IV. A amante de Dom Pedro chama a atenção do rei para a piedade que é possível encontrar-se nas feras, piedade essa que não estava a conseguir obter do soberano.

Ao ver que não está a conseguir demover o rei da sua decisão, Inês apela a este que pense nos filhos que ficarão órfãos, filhos estes que são netos de Afonso IV (estância 127).

Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito

(Se de humano é matar ua donzela,

Fraca e sem força, só por ter sujeito

O coração a quem soube vencê-la),

A estas criancinhas tem respeito,

Pois o não tens à morte escura dela;

Mova-te a piedade sua e minha,

Pois te não move a culpa que não tinha.

Nesta estância o rei cruel contrasta com a mulher frágil e inocente, a oração parentética (introduzida habilmente por Camões) questiona a natureza deste soberano. Inês é caracterizada como sendo fraca e sem força (pleonasmo) portanto está à mercê de Dom Afonso IV. Qualquer ser humano ficaria comovido perante tal cenário e, ao matar uma dama indefesa e sem culpa, Afonso IV revela-se como mais selvagem que todos os animais ferozes.

Inês é assassinada e todos os elementos da Natureza reflectem esta morte (típico das produções líricas renascentistas): o sol esconde-se; os vales reproduziram em eco o último sopro de vida de Inês que continha o nome do seu amado; e as ninfas do Mondego choraram durante muito tempo e estas lágrimas perpetuaram-se na Fonte da Lágrimas (na Quinta das Lágrimas, em Coimbra). O episódio termina com a referência a esta fonte mágica, dando um aspecto ainda mais lendário a esta história de amor.

As filhas do Mondego a morte escura

Longo tempo chorando memoraram,

E, por memória eterna, em fonte pura

As lágrimas choradas transformaram

O nome lhe puseram, que inda dura,

Dos amores de Inês, que ali passaram.

Vede que fresca fonte rega as flores,

Que lágrimas são a água e o nome Amores.

As ninfas do Mondego haviam testemunhado esta linda história de amor, pois foi nos saudosos campos do Mondego que Inês e Pedro se terão visto pela primeira vez; e nos arvoredos da Fonte dos Amores que terão tido os seus encontros secretos. Reza também a lenda que o sangue que a amada de Dom Pedro derramou está, ainda hoje, gravado numa rocha. Todavia, de acordo com os especialistas a cor avermelhada que podemos constatar na rocha deve-se à presença de uma alga, a Hildenbranthiarosea. No entanto, muitos preferem ignorar a explicação científica para que o mito não perca o seu fantástico e maravilhoso.

Muito se tem escrito e dito sobre a história trágica de Inês de Castro e Dom Pedro. A História reproduz os factos, mas a Literatura tem mistificado estes factos, transformando esta história de amor numa das mais belas histórias de amor a nível mundial. São muitos os turistas que visitam os túmulos e muitos aqueles que querem passear pelos jardins, outrora secretos, de Pedro e Inês.

Existem vários aspectos da lenda que a História não consegue comprovar[4]. Contudo, quem conhece esta história de amor prefere acreditar em toda a magia que a envolve, tudo aquilo que a transformou numa parte da nossa tradição, tradição de há já seiscentos e cinquenta anos. Tradição que irá continuar a apaixonar as futuras gerações.

 


Bibliografia

  • AAVV, Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, Mem Martins, Ed. Verbo, 1976
  • CAMÕES, Luís de Vaz, Os Lusíadas, , Porto, Livraria Figueirinhas, 1999, 2ª edição
  • FRANCO, António, Memória de Inês de Castro, Mem Martins, Edições Europa-América, 1990
  • LOPES, Óscar e SARAIVA, António José, História da Literatura Portuguesa, Porto, Porto Editora, 1996, 17ª edição
  • SOUSA, Maria Leonor de, Inês de Castro – Um Tema Português na Europa, Lisboa, Edições 70, 1987

Bibliografia Internet

  • Biblioteca Virtual
  • http://www.portalcen.org/bv/estudante/inesdecastro.pdf
  • SILVA, Fernando Correia
  • http://www.vidaslusofonas.pt/inesdecastro.htm


[1] CASTELO BRANCO, Camilo, Amor de Perdição,  Mem Martins, Publicações Europa-América, 1995, capítulo X, página 106

[2] CAMÕES, Luís de, Os Lusíadas, Porto, Livraria Figueirinhas, 1999, 2ª edição, página 172, Canto Terceiro, estância 118

[3] Luís de Camões contribuiu fortemente para a afirmação de Inês de Castro na literatura nacional. O episódio de Inês de Castro está envolto numa extrema emotividade.

[4] É o caso de documentos a comprovarem o casamento de Pedro e Inês e da coroação de Inês depois de morta.


Por Sandra Macedo Santos

segunda-feira, 2 de março de 2009

A Vingança do Rei

 

 

1

Rei D. Pedro I

Prefácio

Foi no ano de 1360, que os reis de Portugal e Castela (agora Espanha) fizeram um acordo que iria ter repercussões a nível da sua popularidade junto aos seus súbditos nos dois países.

Em Portugal reinava D. Pedro I, e em Castela também o rei tinha o mesmo nome e eram primos os dois reis, quando resolveram infringir as promessas feitas e proceder á troca de criminosos que se tinham refugiado nos seus respectivos países em fuga á justiça do país vizinho.

Dirão certamente que era justo, e ninguém pode afirmar o contrário, apenas D. Pedro I de Portugal tinha prometido ao seu pai D. Afonso IV, falecido há três anos, que não se vingaria e tinha perdoado aos assassinos de Inês de Castro.

Mas a ferida não se tinha fechado no seu peito, nem tal seria alguma vez possível, sabemos agora, que nem em vida e nem depois da morte de ambos.

Assim, naquele dia no seu paço real em Santarém, que desde o tempo de seu pai, era a capital do reino, esperava impaciente notícias da embaixada que se tinha deslocado até á fronteira do país vizinho para proceder á troca dos fidalgos espanhóis que tinha acolhido e que agora entregava á justiça de seu primo, em troca dos responsáveis apontados como os assassinos da mãe de seus filhinhos, agora órfãos.

O paço real tinha sido edificado junto á porta de Leiria, por onde se entrava na capital, chegando do norte do país, dos territórios outrora conquistados por seus avós, e dessa linda cidade de Coimbra, onde repousava a sua amada amortalhada, e as lágrimas choradas tingidas de sangue tinham originado nascentes cujo leito seria para sempre rubro como o sangue derramado de uma inocente amante.

Saudade, essa palavra que desde esse dia 7 de Janeiro de há cinco anos, tinha um significado pungente de raiva, amargura e eterna dor no seu peito, uma solidão, um vazio que nunca seria preenchido até ao dia do Juízo Final e que para sempre iria exprimir o sentimento de todo um povo.

I Capítulo – A aia da rainha

2

D. Inês de Castro

Tinha sido há vinte anos atrás, quando a pobre rainha D. Constança tinha chegado ao reino, em resultado de acordos reais, destinada a ser a sua esposa e a mãe do príncipe herdeiro do trono de Portugal, que tinha cruzado pela primeira vez o seu negro olhar com aquele outro verde e luminoso que sem temor sustentou o seu.

Era o dia do seu casamento e ao subir as escadarias da Sé Real, ao encontro da sua noiva que sem vontade iria desposar para cumprir a vontade do seu severo pai, o Rei D. Afonso IV, a sua vista foi atraída pela bela aia de sua noiva, de cabelos louros que lhe caíam graciosamente em cachos derramados pela altiva cabeça e emolduravam o esbelto pescoço, que sobressaía de um busto donairoso a que o corpete de alvo linho modelava em formas expressivas.

O seu nome era Inês de Castro e era filha bastarda de um nobre fidalgo espanhol e de uma senhora portuguesa com quem o senhor tinha tido um caso amoroso.

Quando a bela donzela ousou levantar o olhar curioso para olhar o príncipe português, um luminoso raio esmeralda desfechado em direcção certeira ao coração compungido de amores contrariados, do impetuoso príncipe, não passou despercebido aos fidalgos e curiosos reunidos e logo vozes sussurradas se ouviram agourando desgraça.

Efectivamente de regresso á corte reunida em Coimbra, a bela cidade residência real desde os tempos de D. Afonso Henriques, os murmúrios não se calaram, antes os apaixonados os alimentaram com os seus comportamentos que mesmo conhecedores da impossibilidade daquele amor, não faziam questão de esconder.

Vivendo no mesmo palácio, ocasiões não faltavam para se encontrarem, e os passeios pelas verdejantes e bucólicas margens do Mondego, eram constantes, e mesmo sabendo da impossibilidade daquele amor, pois que além do príncipe ser casado, eram os dois primos, parentesco que naqueles tempos impossibilitava uma relação mais íntima, considerada incestuosa e contrária ás leis da Igreja, em breve era conhecida de todos no paço e alastrando pelas vilas e aldeias do reino, que D. Pedro e D. Inês de Castro, mantinham uma relação de amantes, imoral e ilícita.

II Capítulo – Finalmente juntos

3

Casamento Secreto

Enquanto os dois apaixonados viviam o seu amor indiferentes a tudo, a pobre rainha legítima esposa, D. Constança, deu á luz o seu primeiro filho a quem chamarão D. Fernando, e que irá herdar o trono.

Aconselhada pelas suas damas, resolveu convidar para madrinha, D. Inês de Castro, que além de dos factos já explanados, ficaria assim com mais um laço de parentesco que naqueles tempos, reforçava a proibição, próxima do incesto, daqueles laços de amor entre os dois amantes.

Ao ouvidos do velho Rei D. Afonso IV, também já tinham chegado os rumores daquele amor proibido e a solução encontrada, foi desterrar a apetecida amante do príncipe para o lado de lá da fronteira espanhola, no castelo de Albuquerque, junto á raia alentejana, longe do seu amor, para assim promover o esquecimento daquele afecto escandaloso.

No entanto, continuaram a trocar correspondência sendo as cartas transportadas pelos almocreves, os negociantes daqueles tempos que iam de terra em terra, vendendo azeite e outros produtos da lavoura e eram os correios secretos, para o Rei não ter conhecimento que as suas ordens não eram inteiramente cumpridas.

Entretanto a rainha definhava com falta de amor, e preocupações crescentes, enquanto o príncipe se ausentava nas suas caçadas pelos montes e promovia touradas junto ao mar em Peniche, para matar o vazio sentido pela ausência de quem amava mais que a si mesmo.

Até que ao dar á luz o seu terceiro filho, no ano de 1354, a pobre rainha enfraquecida pelos desgostos, morre, deixando livre o caminho para uma vida em comum aos dois amantes, pelo que o príncipe sem hesitar, de imediato manda vir a sua amada para junto de si, enquanto o seu pai, fica na corte em Lisboa e o seu filho herdeiro é criado fraco e débil junto aos avós.

Primeiro em Moledo, em seguida noutros locais, depois fixando residência no paço da Quinta de Santa Clara em Coimbra, os dois amantes gozam do seu amor intenso e da sua felicidade descuidada, sem pensarem que o seu amor teria um preço demasiado alto a pagar em troca de tanta felicidade e paixão que já é abençoada com a presença dos seus três filhinhos, D. Afonso, D. Dinis e D. Beatriz, que nasceram sãos e perfeitos, ao contrário do débil príncipe herdeiro D. Fernando.

III Capítulo – A sentença fatal

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Julgamento de D. Inês

Assim, vão vivendo, indiferentes á opinião do rei e dos seus conselheiros, que vêm em D. Inês de Castro uma ameaça cada vez maior á independência do reino, devido á crescente influência da sua família junto a D. Pedro, já que seus irmãos eram fortes candidatos á coroa do país vizinho e tentavam influenciar o príncipe a juntar-se a eles na luta, que se fosse funesta aos seus interesses, podia arrastar o país para um guerra desastrosa e até para a perda da sua soberania.

Acresce o facto do príncipe D. Fernando, poder ser mandado assassinar para dar lugar aos filhos escorreitos e saudáveis de Inês, como os avisados conselheiros anteviam, com ou sem razão.

Então convencido pelos seus conselheiros, o velho Rei deixou-se persuadir que a única culpada de tudo era D. Inês e que a solução seria eliminá-la pela morte, apagando assim a sua influência junto ao príncipe.

Naquela triste manhã de 7 de Janeiro de 1355, estando D. Pedro ausente nas suas caçadas, o Rei D. Afonso IV e Pedro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco dirigiram-se a Coimbra e sem se deixarem comover pelo súplicas da pobrezinha que rodeada pelos seus filhinhos, pedia clemência, se não para ela, pelo menos para não deixar seus infantes órfãos, executaram a cruel sentença, da aplicação da qual no entanto, o Rei já hesitava, mas não teve forças para mudar o curso do destino.

Os conselheiros temendo a fúria de D. Pedro fugiram para Espanha e o príncipe louco de dor, revoltou-se contra o pai e acompanhado pelos irmãos de D. Inês, cercou a cidade do Porto onde este se encontrava, com o seu exército, jurando vingança contra o seu progenitor.

Valeu a intervenção da sua mãe a rainha, para promover a paz e o perdão entre os dois, mas apenas na aparência o pobre príncipe se aquietou, pois que dois anos depois quando sucedeu a seu pai no trono, por morte deste, logo começou a congeminar os planos da vingança que tinha arquitectado em longas noites insones, de lágrimas e negro desespero que moldaram o seu carácter de jovem apaixonado e justo, em um rei cruel que aplicava a justiça aos seus súbditos como se todos fossem culpados da dor que lhe dilacerava o peito, como consta nas crónicas daquele tempo e que chegaram aos nossos dias, para relataram as lutas e vinganças do pobre príncipe louco e desesperado.

IV Capítulo – A vingança do Rei

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Morte de D. Inês

Assim quando no início do ano de 1361 chegaram finalmente a Santarém, dois dos assassinos da sua sempre chorada amante, Pedro Coelho e Álvaro Gonçalves, já que o terceiro avisado por um mendigo que seria procurado ao voltar a casa na cidade espanhola onde vivia, fugiu para França disfarçado de mendigo e assim escapou á sentença de morte contra si jurada por D. Pedro, El-Rei saiu ao encontro da comitiva que trazia sob prisão os dois odiados conselheiros.

Consta que um deles, Pedro Coelho teria sido até seu professor e aio de criação, pelo que os laços que os uniam eram fortes e íntimos, o que talvez apenas servisse para refinar mais a mágoa e o ódio ilimitado do agora Rei D. Pedro.

Começou por os interrogar sobre os motivos da morte de Inês, mas como nada conseguisse saber, além daquilo que era já por demais conhecido, sobre as razões patrióticas invocadas, teria pedido ao seu cozinheiro:

- Trazei-me azeite, cebola e vinagre que vou comer este coelho!

Então ordenou a sua morte, mas com tal crueldade que a um mandou que lhe fosse retirado o coração pelas costas e a outro pelo peito, pois que a pessoas sem coração como eles de nada lhes servia!

Em seguida mandou o seu cozinheiro preparar e servir-lhe os corações e levou a dor ao extremo de os trincar num acesso de raiva e dor sem limites pela perda da sua amada Inês!

Depois mandou queimar os cadáveres e ainda lançou uma maldição sobre a terra natal de Pedro Coelho que mandou salgar, para ficar para sempre estéril!

Estes acontecimentos tiveram lugar em Santarém, no paço real onde mais tarde sobre as suas ruínas, foi construído um convento e Igreja que ainda existem e que serviram para Colégio, ou Seminário de formação de padres, pelo que hoje se chama a Igreja do Seminário bem como o largo em frente, e alguns vestígios do antigo paço real ainda se conservam no seu interior, nomeadamente o postigo em pedra, da sacada onde recostado D. Pedro teria assistido ao macabro espectáculo.

Epílogo

6

Túmulo de D.Inês

Seguidamente D. Pedro apresentou testemunhas de que teria casado secretamente com D. Inês que assim seria sua esposa legítima, assim como os seus filhos legalizados por tal união teriam os mesmos direitos dos outros filhos nascidos do casamento com D. Constança.

Mandou construir um magnífico túmulo em fina pedra lavrada que foi colocado no Mosteiro de Alcobaça, mandado erigir pelo seu antepassado D. Afonso Henriques em cumprimento de uma promessa sobre a reconquista de Santarém aos mouros, e ordenou que D. Inês fosse retirada da sua campa, e coroada rainha e perante toda a corte reunida, obrigou a que todos lhe prestassem vassalagem beijando-lhe a mão, e reconhecendo-a legítima rainha de Portugal.

Um impressionante cortejo fúnebre se formou e acompanhou-a ao longo de vilas e aldeias até ao Mosteiro de Alcobaça, onde foi finalmente sepultada aquela que depois de morta foi rainha, como a descreveu Camões nos imortais Lusíadas.

Sete anos mais tarde, D. Pedro juntou-se á sua amada, quando da sua morte, tendo sido sepultado no outro túmulo que para si havia também mandado talhar e que ficou de frente para o de Inês, para que segundo suas ordens, quando ressuscitassem no dia do Juízo Final, ao erguerem-se pudessem de imediato ver-se.

Nos dez anos do seu reinado, D. Pedro não voltou a casar, sofria de insónias terríveis que tentava colmatar com festas nocturnas pelas ruas de Lisboa, acompanhado do povo de quem era querido e amado.

Um dos seus maiores prazeres era fazer aplicar a justiça, fosse quem fosse o faltoso, de ninguém tinha misericórdia, tal como não tinham tido com a sua Inês, por isso ficou conhecido como D. Pedro I, o Justiceiro ou Cru.

Por: Arlete Piedade - Santarém – Portugal - 16/09/2006

domingo, 1 de março de 2009

Ó tu, que tens…

Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito

(Se de humano é matar hûa donzela,

Fraca e sem força, só por ter sujeito

O coração a quem soube vencê-la),

A estas criancinhas tem respeito,

Pois o não tens à morte escura dela;

Mova-te a piedade sua e minha,

Pois te não move a culpa que não tinha.